Tinha tudo para correr mal (77º Capítulo)

Enquanto no mundo real a quarentena e o estado de emergência se mantêm, também na história de "Tinha Tudo Para Correr Mal" eles enfrentam essa realidade.

 "Terceira semana de isolamento social, depois de termos feito uma abertura no muro, conseguimos encomendar na internet piscinas insufláveis  que vamos montar no terraço. Sim, quando esta quarentena acabar estas duas casas já sofreram mais modificações, do que provavelmente em toda a sua existência.
- Não sabia que gostavas de música... - Diz a Lili pegando numa viola escondida na garagem da Ana.
- Eu e o Ivo fizemos parte da tuna... - Responde a Ana. - Deve andar por ai, outra algures... - Termina a Ana enquanto arruma um dos cantos da garagem.
- Está aqui! - Exclama a Joana.
Vejo a Lili levar a viola e entrega-la à Ana com um sorriso.
- Vamos tocar algo! - Diz a Lili.
- Tu sabes tocar viola? - Pergunta a Joana admirada. - Fiz aulas de viola antes de os meus pais me expulsarem de casa, aprendi algumas coisas... - Diz ela. Pegando na viola que a Joana segura.
Então de repente, o que aconteceu foi mágico. Do nada, todas nós naquela garagem fizemos silêncio e soaram os primeiros acordes de uma música portuguesas que eu conhecia bem. 
Não era uma música como as de Itália que transmitem esperança num mundo melhor, ou animada, era apenas uma música normal num dia anormal.
Quando os primeiros acordes saíram da guitarra da Lili, vi Ana a a sorrir. Já não a via pegar na viola há muitos anos, mas ela começou a acompanhar a Lili como se nunca tivesse parado de tocar em toda a sua vida.
- Foi sem mais nem menos que um dia selei a 125 azul... - Comecei eu a cantar com um sorriso.
- Foi sem mais nem menos que me deu para abalar sem destino nenhum... - Cantou a Joana retribuindo o sorriso.
- Foi sem graça, nem pensando na desgraça que entrei pelo calor... - Continuei antes de sair para fora da garagem e avisar a casa ao lado do que estava a acontecer ali.
- Sem pendura, que a vida já me foi dura para insistir na companhia. - Canta a Ana.
- O tempo não me diz nada... - Grita a Carlota do outro lado do muro. - Nem o homem da portagem na entrada da autoestrada... 
- A ponta ficou deserta não sei mesmo se Lisboa... - Continua o Artur sentando-se no muro - Não partiu para parte incerta...
- Viva o espaço! - Começa o Dinis Juntando-se a nós - Que me fica pela frente e não me deixa recuar...
Vejo a cabeça do vizinho do lado direito espreitar por cima do muro com uma expressão chateada mas sempre com o seu capuz, começo a achar que ele deve ser um careca infeliz. Porque ainda não o vi a fazer nada fora do normal durante estas três semanas em que todos estamos fechados em casa.
 a Ana e a Lili saíram da garagem e agora estão em pleno jardim, com todos nós A música chega ao refrão e todos os nos juntamos a elas,a dar vós à música dos Trovante.
Então aqui algo fantástico aconteceu, um senhor que estava a passear o cão junto ao nosso portão juntou-se a nós e começou também a cantar animadamente. Depois dele os vizinhos de frente que estavam a fazer jardim também começaram a cantar, e depois deles muitas pessoas foram atraídas pelo barulho e se juntaram nos seus jardins e janelas para cantar.
- Não acredito! - Exclama a Joana Aproximando-se de mim.
- Acho que hoje sem sabermos animamos o dia de muitas pessoas... - Diz o Rodrigo no seu lado do muro. 
Aviso a Joana com um toque no braço, o nosso vizinho do lado direito também se sentou no muro e se juntou à canção.
Foram apenas quase 4 minutos de música, mas durante quase quatro minutos, todos estávamos bem, e todos acreditávamos que as coisas iam ficar bem. Cantamos numa só voz. Somos o que somos, mas hoje não foram só estas duas casas que se uniram, hoje uma rua inteira juntou-se e foi feliz!"

Espero que tenham gostado deste capítulo. Se ficaram curiosos em relação a mesma, podem ouvi-la neste link.

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