sábado, 16 de fevereiro de 2019

Tinha tudo para correr mal (23º Capítulo)

Depois de alguns capítulos cheios de novas e variadas revelações, achei que seria boa ideia fazer mais um daqueles capítulos em que conto um pouco sobre como as personagens se conheceram. Desta vez e para seguir a ordem cronológica, vou contar-vos como é que a Eduarda e a Carlota se tornaram amigas.
Relembro que se quiserem participar basta deixarem o vosso comentário neste post

"Tenho apenas 19 anos. Sou uma adolescente, devia estar neste momento numa festa com o pessoal da faculdade a beber até cair para o lado, e amanha deveria acordar ao lado de um desconhecido jeitoso, mas não vou fazer nada disso. Não quero e não posso, existem maneiras melhores de aproveitar o sábado à noite. Esta noite tenho uma missão importante. Tenho que meter juízo na cabeça da irmã do Artur.

Um dia antes.
- Por favor preciso que fales com a Carlota... - Disse o Artur enquanto andava de um lado para o outro.
- Porque eu? Fala tu com ela, és o irmão mais velho, o gajo fixe...
- Sou o gajo fixe, mas tal como tu disseste sou o irmão mais velho, tudo o que eu lhe disser ela vai considerar como sendo excesso de zelo e preocupação.
Solto um suspiro sonoro.
- Além disso ela adora-te desde miúda, és tipo o ídolo dela...
- Podia ter arranjado melhor. - Retorqui - Ela não tem amigas?
- As amigas dela ainda conseguem ter menos juízo que ela.
- Está bem eu falo com ela.

Sábado à noite.
Com 14 anos eles são o quê? Adolescentes? Pré-adolescentes? Bem, digamos que são criaturas estranhas, e eu sei isso porque passei pelos 14 anos apenas à 5 anos por isso, acho que ainda me lembro bem da fase da estupidez.
Bati à porta do quarto da Carlota. A criatura que abriu a porta estava vestida com umas calças pretas super justas (como é que ela consegue respirar dentro daquilo?), e um top que me deixava ver mais que umbigo.
- Olá Edu! - Diz ela afastando-se da porta. - O meu irmão está no quarto dele...
- Eu sei, mas era contigo que eu queria falar. - Digo fitando o quarto que era uma mistura da casa da Barbie com um mundo gótico. - Posso entrar?
Ela sorri a afasta-se para eu entrar. Sento-me na cadeira à frente da secretária.
- Vou sair com as minhas amigas, por isso não me posso demorar...
- Tu não és burra nenhuma e eu também não. - Digo frontalmente. - Tu vais a um encontro!
- Não vou nada. - Mente ela, mas a minha expressão mostra-lhe que foi apanhada. - Como é que sabes?
- Primeiro, porque nenhuma miúda se veste assim para sair com as amigas.
Ela olha-se de cima a baixo a tentar perceber o que está errado com a roupa dela.
- Segundo, o teu irmão também não é burro, ele sabe que vais sair com um gajo que conheceste na net, e pediu-me para vir falar contigo.
- Ele não tinha esse direito, ele não tem que se meter na minha vida. - Diz ela com a sua revolta de adolescente ou pré-adolescente, ou seja lá o que for.
- Calma lá. Ele efetivamente não tem o direito de se meter na tua vida, mas tem o dever de o fazer, é o que os irmãos mais velhos fazem. - Digo calmamente, a criança à minha frente está prestes a rebentar em fúria se não a exorcizar já, nem o Vaticano o vai conseguir. - Os irmãos e os amigos, é por isso que estou aqui.
Ela começa a andar furiosamente pelo quarto.
- Quem é ele?
- Chama-se Manuel e é muito giro.
- E sabes mais alguma coisa além disso?
- É engenheiro civil, tem 27 anos, e diz que gosta de mim.
- OK, vou ser brutalmente honesta contigo, posso? - Pergunto enquanto a vejo acenar com a cabeça. - Ele só te quer comer! Ele pensa que és uma chavala estúpida!
- Eu sabia que não ias entender, ele gosta mesmo de mim, ele diz que sou muito madura para a idade.
- E efetivamente és... Se te comprarmos com as miúdas da tua idade tu és mais madura, mas não madura o suficiente para que um homem de 27 anos te ache interessante.
- Ele disse-me que gosta de mim porque as mulheres da idade dele são todas muito experientes e não gostam de relações sérias.
- Até pode ser verdade isso que ele diz das mulheres da idade dele, mas porquê uma miúda de 14 anos?
- Quase 15!
Atitude muito madura não haja dúvida.
- OK, tentei fazer isto da forma mais carinhosa que consigo. Mas se não queres ver as coisas a bem, vais ver a mal.
Ela fita-me extasiada, mas ainda de nariz empinado, convencida que ele gosta mesmo dela e que vão felizes para sempre.
- Estás a ser uma parva de primeira! Um homem de 27 anos não quer uma miúda de 14 anos para nada a não ser para sexo fácil. Pensa um bocado miúda, puxa por essa cabeça que eu sei que é inteligente. Primeiro se ele gostasse de ti nunca te sugeria um encontro à noite nem sozinhos, ele enquanto adulto sabe os perigos destes encontros online e tentaria proteger-te e colocar-te o mais à vontade e segura possível. Segundo, se ele gostasse de ti de verdade, ia deixar-te livre, pois estás na idade de o ser, para não falar que o que ele está a fazer está muito perto de ser crime de pedofilia. És menor Carlota!
As minhas palavras duras acertam em cheio, ela senta-se na cama.
- Ele disse que és diferente, és especial, que passa os dias a pensar em ti, contudo aposto que nem sabes como é que ele passa dias. Aposto que ele é casado e se calhar até tem filhos.
- Ele disse-me que não...
- Eu também te posso dizer que vou concorrer a presidente da junta de freguesia. Pode ser verdade ou pode ser mentira!
Ela está em choque, tenho que jogar as cartas todas agora, caso contrario ela vai sair daquela porta e eu vou ter que fazer o papel de vilã e ir a correr contar aos pais dela.
- Ele só fala contigo durante o horário laboral não é? À noite e ao fim de semana ele quase nunca está online, não é verdade?
Ela fita-me admirada mas acena a cabeça.
- E sabes porquê? - Ela abana a cabeça timidamente - Porque esse é o horário em que um homem de família está em casa, com a mulher e com os filhos, não vai querer correr o risco de querer falar contigo e ser apanhado.
Consegui! Vejo nos olhos delas que se fez luz, e algumas lágrimas.
- Ei! - Digo eu sentando-me na cama ao lado dela e abraçando-a. - Não precisas de chorar.
- Sinto-me burra, como é que eu não percebi?
- Ser adolescente é ser burro faz parte do mesmo pacote. Ou achas que eu, o teu irmão e a Ana não passamos pelo mesmo na tua idade?
- Também estiveste apaixonada por um homem mais velho?
- Pior, estive apaixonada por um da minha idade! - Consigo arrancar-lhe um sorriso. - Não tens que ter pressa em crescer e em teres namorado, as coisas acontecem quando tiverem que acontecer... Ainda és muito nova e os melhores momentos da tua vida ainda estão por vir, acredita em mim, não tenhas pressa.
- Mas eu só queria ser como o meu irmão e como tu. Vocês são tão fixes, vocês namoram, saem à noite, fumam, bebem...
- Eu sei que isso pode ser fixe, mas na tua idade não o fazíamos. Eu tive o meu primeiro namorado aos 17 anos, comecei a fumar com 16 e bebi álcool pela primeira vez aos 18. 
- A sério? Não estás a dizer isso para eu me sentir melhor?
- Claro que não. Não gosto de mentiras piedosas.
Ela sorri e encosta a cabeça no meu ombro.
- Sabes uma coisa que eu gostava de ter tido na tua idade?
- O quê?
- Um irmão fixe como o Artur e uma amiga como eu!
- Lá isso é verdade, sou uma sortuda.
- E sabes que mais, essa roupa é gira de mais para ficares fechada em casa num sábado à noite, pega num casaco e anda, hoje é dia e São Patrício, vens connosco a um bar!
Os olhos dela brilham como estrelas.
- Mas, não bebes, não fumas e não dás conversa a desconhecidos. Eu e o teu irmão vamos ficar responsáveis por ti, por isso, e se quiseres repetir vais-te portar bem.
- Combinado. - Diz ela, indo buscar um casaco e seguindo-me até à porta.
- Um dia ensinas-me a fumar?
- Quando fores mais velha! - Respondo rindo.
- E já agora quem o São Patrício?
- Um padroeiro qualquer irlandês, não faço ideia, o importante é que ele nos deu motivo para celebrar.

Desde esse dia que a Carlota começou a sair connosco para tudo, tornou-se também a minha irmã mais nova e ainda hoje faço tudo para a proteger, pois ela tem uma estranha capacidade para ser ingénua.
E para aqueles que se estão a perguntar, se eu alguma vez a ensinei a fumar, a resposta é não. Depois deste dia ela começou a pensar pela própria cabeça e deixou de querer ser como os outros."

Se ainda não leram...

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5 Comentários:
Às 4:44 da tarde, fevereiro 16, 2019 , Blogger Green disse...

Interessante...

 
Às 11:34 da tarde, fevereiro 16, 2019 , Blogger Andreia Morais disse...

Na maior parte das vezes, só precisamos da palavra certa ou da pessoa certa para nos incutir juízo. Acabaremos por cometer muitas asneiras, mas, pelo menos, há cenários mais graves que conseguimos evitar

 
Às 11:31 da manhã, fevereiro 17, 2019 , Blogger Matilde disse...

Bom domingo:)
Beijinhos
https://matildeferreira.co.uk

 
Às 6:35 da tarde, fevereiro 18, 2019 , Blogger Teresa Isabel Silva disse...

Obrigada!

 
Às 6:35 da tarde, fevereiro 18, 2019 , Blogger Teresa Isabel Silva disse...

Ainda bem que gostaste, fico feliz por saber!

 

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