Carta para o meu avô

Querido Avô,

 

Acordei com o despertador para mais um dia de trabalho... Choveu a noite toda e ainda está a chover... Penso que hoje está um dia está um dia triste e cinzento, e nem imaginava o que vinha por ai...

A minha mãe, a tua única filha, contou-me que faleceste durante a noite, sozinho numa cama de hospital... Oh meu Deus, como eu gostava de ter feito alguma coisa, como gostava de conseguido ajudar... Mas bem lá no fundo, eu soube desde o dia em que os bombeiros te levaram para o hospital, que isto podia acontecer... Sabes que eu sou uma pessoa realista, sabia que as probabilidades não estavam a teu favor, e sabia que isto podia acontecer, mesmo que eu me negasse a acreditar...

 

Numa época em que todos esperamos ansiosamente pela vacina que vai mudar o mundo, tu foste logo morrer nesta reta final... Não podias ter esperado mais um mês ou dois? Caramba Bô, eram só uns dias... Só precisavas de mais uns dias... Aguentamos a pandemia sem contaminação, porque é que aconteceu isto agora que já existia esperança... 

 

Nas ultimas horas, tenho-me lembrado de como tu e eu brincava-mos quando eu era criança... De andar às tuas cavalitas, de como montavas Legos comigo, de como ias comigo comprar guloseimas... Apesar de tudo, e de nos últimos anos não demonstrares, foste um bom avô.

 

Assusta-me pensar que estiveste 12 dias no hospital, nós queríamos muito te visitar, mas esta maldita pandemia não nos deixava... Por favor, não penses, nem por um segundo que te abandonamos... Sei que é fácil pensares que nos esquecemos de ti, que te mandamos numa ambulância para o hospital e nunca mais quisemos saber de ti, mas não era verdade, eu tentei saber todas as informações que podia sobre o teu estado, e os médicos ligavam quase todos os dias para dar noticias... Nós queríamos saber de ti, mas não podíamos fazer mais...

 

Desculpa, não ter estado mais presente, desculpa por não ter consigo fazer mais, sei que não podia, mas talvez devesse ter tentado... Espero que agora esteja com a avó, e que sejam finalmente felizes...

Com saudades...

Teresa Isabel Silva

 

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