Marisa Matias é um nome com o qual já estamos familiarizados, afinal de contas, ainda no inicio do ano a eurodeputada concorreu à eleições presidenciais tendo ficado em quinto lugar com 3,95% dos votos. Este feito tornou-a na segunda mulher com mais votos numa eleição nacional à presidencia da republica.
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Créditos da fotografias: Sérgio Aires
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Contudo, e apesar das suas várias conquistas, Marisa Matias, nem sempre ponderou uma carreira na politica, acabando por se formar em sociologia, contudo tal como ela explica a politica surgiu na sua vida por uma sequência de vontades.
Ontem é só Memória: Como e quando é que a Marisa percebeu que queria desempenhar um cargo político?
Marisa Matias: Nunca foi um objetivo definido na minha vida. Aconteceu na sequência de outras vontades, como a participação em movimentos sociais de defesa do ambiente ou pela igualdade de género. A dada altura os caminhos cruzaram-se, mas nunca foi nada que tivesse planeado.
A eurodeputada é também conhecida, por ter uma voz ativa em causas ambientais, de saúde publica e de igualdade de género. O facto de ter conquistado o quinto lugar nas presidenciais deste ano veio provar que as mulheres estão a conquistar votos num mundo que ainda é maioritariamente masculino.
Ontem é só Memória: O que é que falta para que mais mulheres ocupem cargos de destaque?
Marisa Matias: Falta muita coisa. Falta uma maior igualdade no espaço público e no espaço privado/doméstico. Falta uma verdadeira educação para a igualdade de género. Falta o real combate às desigualdades salariais. Enfim, já foi feito muito caminho, mas se continuarmos como até aqui precisamos de esperar 250 anos até atingirmos patamares de igualdade. Como é evidente, não podemos esperar tanto tempo. As quotas, não são como um fim em si mesmo mas como um meio, foram importantes para incluir mais mulheres em cargos de representação, mas as lideranças políticas são ainda muito masculinizadas.
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| Créditos da fotografias: Sérgio Aires |
Sendo uma voz ativa da sociedade e uma defensora da igualdade
também as situações de escândalos políticos não ficam fora do radar, sendo uma presença constante quando o assunto é o combate contra a corrupção, contudo quando questionada, ela afirma que é possível conquistar a confiança das pessoas.
Ontem é só Memória: Infelizmente é muito usual vermos membros dos órgãos de soberania, envolvidos em escândalos e situações ambíguas, como é que acha que o povo português, pode voltar a restituir esta confiança, nos seus governantes?
Marisa Matias: A confiança nos órgãos de soberania e nos governantes tem sido muito deteriorada ao longo do tempo por escândalos de corrupção e de portas giratórias entre o poder político e o setor dos negócios. Só com um real combate à corrupção e com muito mais transparência se pode reganhar a confiança dos cidadãos e das cidadãs.
E porque ao longo desta entrevista já se falou da igualdade de género, não se podia deixar de falar sobre os ataques que a Marisa Matias foi alvo durante a sua campanha às presidenciais de 2021, tornando-se o reflexo de uma sociedade e de muitas mulheres que lidam com a discriminação e com o sexismo.
Ontem é só Memória: Durante a campanha às presidenciais de 2021, a Marisa foi um exemplo da luta das mulheres contra o machismo, e um exemplo de que qualquer mulher independentemente da idade, cargo, ou estatuto social pode ser "julgada". Que conselho dá às mulheres que lidam com situações semelhantes?
Marisa Matias: Enfrentar essas situações é uma prática recorrente de qualquer mulher com exposição pública. Discriminação, sexismo e machismo estão em toda a parte. Creio que a solidariedade é uma das armas mais poderosas que temos, tal como ficou claro na situação que refere. A perceção de que o ataque que me foi feito não foi apenas contra mim, mas antes contra todas as mulheres, permitiu gerar um movimento alargado e genuíno, independentemente das opções ideológicas de cada um/a. É por isso que é tão importante o movimento feminista organizado. Foram esses coletivos que nos ajudaram a garantir direitos como o voto, o acesso ao mercado de trabalho, entre muitos outros, e acredito que em conjunto conseguiremos também derrotar o sexismo e o machismo.
Ontem é só Memória: E porque falamos em mulheres e em solidariedade entre elas, o que é para si uma mulher de poder?
Marisa Matias: Qualquer mulher que, em qualquer circunstância, tenha autonomia para decidir sobre a sua vida e o seu corpo.
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| Créditos da fotografias: Sérgio Aires |
Mas, para aqueles que conhecem apenas a Marisa do mundo da politica, está na hora de conhecerem uma Marisa que é tão normal como todos nós, quando vi uma entrevista informal que ela deu ao canal Esquerdanet, soube que a tinha que desafiar para uma pequena brincadeira.
Ontem é só Memória: Só para animar e descontrair um pouco... Vi numa entrevista (ver aqui)
que sabe muito sobre a história do peru, mais alguma curiosidade sobre
esta ave que queira partilhar?
Marisa Matias: Muitas vezes
interesso-me por temas que são considerados secundários, gosto de saber a
razão das coisas serem como são. Daí a curiosidade sobre o peru ou, por
exemplo, sobre a influência do lobby da caça no processo de adesão de
Malta à União Europeia ou outras particularidades desvalorizadas :)
Quanto ao futuro, a Marisa Matias defende que existem muitas conquistas, contudo ela mostra-se positiva e garante que cabe a cada um de nós fazer o melhor por nós e pelo nosso país.
Ontem é só Memória: Na sua opinião, por onde passa o futuro do nosso país?
Marisa Matias: A vantagem de vivermos numa democracia é que o nosso futuro depende do que for a vontade coletiva e, nesse sentido, só depende de nós.
Ontem é só Memória: Quais são os seus projetos para o futuro?
Marisa Matias: Não costumo pensar a muito longo prazo no que a mim me diz respeito, faço esses planos a médio/longo prazo mais para pensar a intervenção política e o seu impacto na sociedade. De qualquer das formas, encaro a representação como uma comissão de serviço, uma missão, que deve ser limitada no tempo.
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