Foi por mais de 25 anos que fãs de longa data tiveram de lidar com o silêncio ensurdecedor de Streets of Rage, um dos maiores marcos dos anos 90 da
SEGA que introduziu muitas pessoas não apenas ao gênero de beat’em up, mas também ao mundo dos videogames na geração do Mega Drive.
Streets of Rage 4 foi anunciado como um símbolo de esperança ainda em 2018 e, agora que já está disponível, cumpre o seu papel com mestria — sem se limitar ao clichê da nostalgia. É possível aproveitar o jogo no PC(Steam), PlayStation 4,PlayStation 5, Xbox One e Nintendo Switch, além de permitir acesso instantaneamente através do Xbox Game Pass.
Desta vez, lançamento não foi desenvolvido pela SEGA, mas sim pelas companhias Lizardcube (Wonder Boy: The Dragon’s Trap), Guard Crush Games (Streets of Fury) e publicado pela Dotemu. Apesar disso, ele é abraçado oficialmente como um sucessor da série.
Simplicidade que cumpre o seu propósito
Antes de mais nada,
os jogadores não devem embarcar em Streets of Rage 4 esperando uma experiência narrativa super densa. Afinal de contas, o propósito do jogo é remeter à experiência das arcadas com pancadaria desenfreada. Mesmo assim,
o jogo se preocupa em oferecer um pano de fundo para os seus acontecimentos e demonstrar todo o trajeto dos heróis através de cenas não interativas, que usam imagens semiestáticas e textos.
Dez anos após os eventos de Streets of Rage 3, uma nova força criminal surgiu com a queda do Mr. X e do seu sindicato, mas agora comandada pelos seus filhos gémeos: os Irmãos Y. Para deter esta grande ameaça, os antigos detetives Axel Stone e Blaze Fielding unem forças a Cherry Hunter, filha do companheiro de longa data Adam Hunter, do primeiro Streets of Rage, e Floyd Iraia, um aprendiz do brilhante Dr. Zan — o idoso robótico que fez estreia no jogo anterior.
Streets of Rage 4 apresenta gráficos desenhados à mão e é seguro afirmar que assume o posto de jogo mais bonito do género já lançado até agora. Vários personagens sofreram um novo design desde o última versão da SEGA, mas eles são totalmente reconhecíveis e o jogador sente que está revisitar (e a reviver) um legítimo Streets of Rage.
Nota especial para o cuidado nos efeitos de iluminação, que não ficam nada atrás das grandes produções do mercado.
Os cenários são todos eles detalhados e traduzem muito bem o caminho dos heróis até o combate final, deixando os jogadores imersos no contexto da violência. No entanto, algo que nos pode dececionar (principalmente os fãs mais antigos do jogo) é que, apesar do retorno de Adam Hunter em determinado ponto da história, não existe um caminho exclusivo a ser jogado com a personagem. Seja qual for a personagem selecionada, a narrativa, continua intocada e as mesmas fases do jogo devem ser jogadas de forma obrigatória.
A duração do jogo é bastante satisfatória, colocando 12 etapas à disposição com muita variedade de inimigos. A cada segundo, o jogador tem de lidar com alguma ameaça nova e isso colabora de forma positiva com a dinâmica do jogo. Não é de se estranhar que muitas pessoas simplesmente percam a noção do tempo durante o jogo, pois a experiência é fluida, imersiva e divertida.
Um sistema de combate digno dos seus antecessores
A maior novidade de
Streets of Rage 4 é o seu sistema de combate, que vem mexer ainda mais com as mecânicas de jogos de luta.
Graças à possibilidade de arremessar os inimigos contra paredes e contra o chão, é possível estender combos e otimizar sequências para provocar a maior quantidade de dano possível.
Além do botão de ataque básico, que pode ser pressionado várias vezes para um combo prédefinido, o jogador tem acesso a novos ataques. Os ataques especiais, também estão de volta, mas agora podem ser usados sem medo e contam com uma variação ofensiva, defensiva e aérea.
Nos jogos clássicos, os especiais consumiam permanentemente parte da vida do jogador ao serem utilizados, mas agora é possível utilizá-los e recuperar a energia perdida de forma quase imediata.
Também é interessante destacar que cada personagem conta com suas próprias mecânicas e rotas de combo, então cada um vai demandar tempo para ser dominado. Isso também se aplica à movimentação, pois apenas alguns são capazes de fazer investidas e corridas para atravessar o cenário. Tudo isso faz com que o combate de Streets of Rage 4 seja o mais divertido e completo da série, incentivando os jogadores a completar a história várias vezes para aprender cada uma das personagens, e até mesmo desafiar os amigos no Modo de Batalha.
Streets of Rage também é sinônimo de banda sonora
Algo que preocupava muito os fãs no período do anúncio de Streets of Rage 4 era a sua banda sonora.
A franquia sempre foi conhecida pelas músicas impactantes, especialmente em Streets of Rage 2, e o anúncio do novo game provocou uma comoção entre os fãs para que a sequência fosse feita da forma correta.
O desfecho foi o melhor possível, pois a trilha sonora é um dos pontos mais altos do jogo.
Replay
O principal recurso que Streets of Rage 4 tem para incentivar o replay é o desbloqueio de personagens. Ao todo, o jogo conta com 17 lutadores, incluindo versões pixelizadas dos protagonistas e chefes dos jogos anteriores. É possível acumular pontos a cada etapa, que mais tarde servem para desbloquear novos conteúdos. Infelizmente, os chefes específicos de Streets of Rage 4 não são desbloqueáveis e isso pode causar alguma decepção nos jogadores.
Repetir a história não é algo necessariamente cansativo porque a variação de personagens e as suas mecânicas únicas são um incentivo para aprender os pormenores de Streets of Rage 4, mas é inegável que a existência de algumas rotas alternativas seria muito bem-vinda.
Mr.X Nightmare, a luta continua...
‘Mr. X Nightmare’ é um pequeno extra ao jogo normal, bem recheado de pequenas novidades, como novas personagens jogáveis, novos inimigos, armas inéditas, entre muitos outros.. É um conteúdo atraente sobretudo para quem procura diferentes desafios no jogo, que é distribuído pela Dotemu.
Modo Sobrevivência
A mais interessante adição do jogo, é o modo "sobrevivência". A modalidade consiste em uma sucessão ilimitada de pequenas fases geradas aleatoriamente, e
o desafio é completar maior número delas, tendo apenas uma vida disponível.
Ao completar cada cenário, é possível escolher uma melhoria para o personagem como aumento do poder dos golpes, incluindo a adição de efeitos nos ataques, como fogo, veneno ou eletricidade. A lista de power ups inclui, ainda, maior resistência a ataques dos inimigos e outros recursos, como o reforço de um companheiro no início de cada fase ou armas especiais.
Embora com o avanço das fases do jogo, o personagem vai ficando mais forte, e nível de dificuldade também aumenta. Ou seja: os cenários vão ficando mais desafiadores, com inimigos mais fortes e mais numerosos e menos itens disponíveis.
O modo sobrevivência é particularmente atraente por conta da jogabilidade fluida do jogo.
A pontuação no modo "sobrevivência" é convertida em experiência para o personagem utilizado, que tem novas habilidades e golpes desbloqueados, válidos tanto para essa modalidade quanto para o modo "história".
Novas personagens
Outra boa adição do DLC (Downloadable Content) é a inclusão de Shiva, Max e Estel como personagens jogáveis. Os três apareciam no modo "história" original. Os dois primeiros, já são velhos conhecidos de fãs da série, enquanto Estel estreou em ‘Streets of Rage 4’.
O DLC ainda traz outras caras novas, mas menos amigáveis: inimigos de outros jogos da série ou variações de capangas que já vimos em ‘Streets of Rage 4’. Para variar o cardápio, chegam também armas novas, como espadas enormes e lanças exóticas e coisas ainda mais inusitadas para uma briga de rua, como um guarda-chuva ou um (surpreendam-se meus amigos) peixe!!!
Opinião Final
As empresas
Lizardcube, Guard Crush Games e Dotemu provaram estar à altura do desafio ao entregar um jogo de altíssima qualidade, e
apesar de os jogadores já se terem aventurado nos jogos anteriores da série da SEGA. Streets of Rage 4 é divertido acima de tudo um jogo que fica ainda melhor com o seu modo multiplayer balanceado e modo de sobrevivência desafiante.
Todas as saudades deste contexto de pancadaria vão se transformar em horas desbloqueando as etapas de Wood Oak City, que nunca foram tão repletos de energia como agora.